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Assim falou Zaratustra

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Mensagem por Fundador 29th julho 2011, 22:21

Eu anuncio-vos o além do homem.

O homem deve ser superado. Que fizestes para o superar? Até agora todos os seres têm apresentado alguma coisa superior a si mesmos; e vós, quereis o refluxo desse grande fluxo, preferis tornar ao animal, em vez de superar o homem. Que é o macaco para o homem? Uma irrisão ou uma dolorosa vergonha. Pois é o mesmo que deve ser o homem para o além do homem: uma irrisão ou uma dolorosa vergonha.

Percorrestes o caminho que medeia do verme ao homem, e ainda em vós resta muito do verme. Noutro tempo fostes macaco, e hoje o homem é ainda mais macaco do que todos os macacos. Mesmo o mais sábio de todos vós não passa de uma mistura híbrida de planta e de fantasma. Acaso vos disse eu que vos torneis planta ou fantasma?

Eu anuncio-vos o além do homem! O além do homem é o sentido da Terra. Diga a vossa vontade: seja o além do homem o sentido da Terra.

Exorto-vos, meus irmãos, a permanecer fiéis à Terra e a não acreditar naqueles que vos falam de esperanças supra-terrestres. São envenenadores, quer o saibam ou não. São menosprezadores da vida, moribundos que estão, por sua vez, envenenados, seres de quem a Terra se encontra fatigada; vão-se por uma vez!

Noutros tempos, blasfemar contra Deus era a maior das blasfêmias; mas Deus morreu, e com ele morreram tais blasfêmias. Agora, o mais espantoso é blasfemar da Terra, e ter em maior conta as entranhas do impenetrável do que o sentido da Terra. Noutros tempos a alma olhava o corpo com desdém, e então nada havia superior a esse desdém: queria a alma um corpo fraco, horrível, consumido de fome! Julgava deste modo libertar-se dele e da Terra. Ó! Essa mesma alma era uma alma fraca, horrível e consumida, e para ela era um deleite a crueldade!

Irmãos meus, dizei-me: que diz o vosso corpo da vossa alma? Não é a vossa alma, pobreza, imundície e conformidade lastimosa? O homem é um rio turvo. É preciso ser um mar para, sem se toldar, receber um rio turvo.

Pois bem; eu anuncio-vos o além do homem; é ele esse mar; nele se pode abismar o vosso grande menosprezo.

Qual é a maior coisa que vos pode acontecer? Que chegue a hora do grande menosprezo, a hora em que vos enfastie a vossa própria felicidade, de igual forma que a vossa razão e a vossa virtude.

A hora em que digais: "Que importa a minha felicidade! É pobreza, imundície e conformidade lastimosa. A minha felicidade, porém, deveria justificar a própria existência!".

A hora em que digais: "Que importa minha razão! Anda atrás do saber como o leão atrás do alimento. A minha razão é pobreza, imundície e conformidade lastimosa!".

A hora em que digais: "Que importa a minha virtude? Ainda me não enervou. Como estou farto do meu bem e do meu mal. Tudo isso é pobreza, imundície e conformidade lastimosa!".

A hora em que digais: "Que importa a minha justiça?! Não vejo que eu seja fogo e carvão! O justo, porém, é fogo e carvão!".

A hora em que digais: "Que importa a minha piedade? Não é a piedade a cruz onde se crava aquele que ama os homens? Pois a minha piedade é uma crucificação".

Já falaste assim? Já gritaste assim? Ah! Não vos ter eu ouvido a falar assim! Não são os vossos pecados, é a vossa parcimônia que clama ao céu! A vossa mesquinhez até no pecado, isso é que clama ao céu! Onde está, pois, o raio que vos lamba com a sua língua? Onde está o delírio que é mister inocular-vos?

Vede; eu anuncio-vos o além do homem: é ele esse raio! É ele esse delírio!


Última edição por Carlos Costa em 19th dezembro 2011, 16:37, editado 1 vez(es)

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Assim falou Zaratustra Empty Re: Assim falou Zaratustra

Mensagem por Fundador 6th outubro 2011, 23:23

Assim falou Zaratustra ao Sol

Assim falou Zaratustra A
Aos trinta anos apartou-se Zaratustra da sua pátria e do lago da sua pátria, e foi-se até a montanha. Durante dez anos gozou por lá do seu espírito e da sua soledade sem se cansar. Variaram, porém, os seus sentimentos, e uma manhã, erguendo-se com a aurora, pôs-se em frente do Sol e falou-lhe deste modo:

"Grande astro! Que seria da tua felicidade se te faltassem aqueles a quem iluminas? Faz dez anos que te abeiras da minha caverna, e, sem mim, sem a minha águia e a minha serpente, haver-te-ias cansado da tua luz e deste caminho.

Nós, porém, esperávamos-te todas as manhãs, tomávamos-te o supérfluo e bemdizíamos-te.

Pois bem: já estou tão enfastiado da minha sabedoria, como a abelha que acumulasse demasiado mel. Necessito mãos que se estendam para mim.

Quisera dar e repartir até que os sábios tornassem a gozar da sua loucura e os pobres da sua riqueza.

Por isso devo descer às profundidades, como tu pela noite, astro exuberante de riqueza quando transpões o mar para levar a tua luz ao mundo inferior.

Eu devo descer, como tu, segundo dizem os homens a quem me quero dirigir.

Abençoa-me, pois, olho afável, que podes ver sem inveja até uma felicidade demasiado grande!

Abençoa a taça que quer transbordar, para que dela manem as douradas águas, levando a todos os lábios o reflexo da tua alegria!

Olha! Esta taça quer de novo esvaziar-se, e Zaratustra quer tornar a ser homem".

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Assim falou Zaratustra Empty Re: Assim falou Zaratustra

Mensagem por Fundador 7th outubro 2011, 18:17

"Entre os meus escritos, Zaratustra vive por si. Outorguei com ele à humanidade o maior dom que esta recebeu, fosse de quem fosse. Este livro, cuja voz se eleva por cima dos séculos, não é apenas o maior livro que existe, o verdadeiro livro da atmosfera das alturas - todo o humano se encontra muitíssimo abaixo dele -; é também o mais profundo, nascido de uma interior riqueza de verdade, poço inesgotável em que nenhum alcatruz desce sem voltar à superfície repleto de ouro e de bondade. Quem aqui fala não é um «profeta», um daqueles horríveis híbridos da carência e da vontade de poder que têm o nome de fundadores de religiões. Antes de mais nada, cabe ouvir exatamente a voz que sai desta boca, voz alciónica, para não ofender impiedosamente o sentido da sua sabedoria.

"São as palavras mais suaves que levantam tempestades; os pensamentos que fazem caminho a passo de pomba dirigem o mundo".

"Os figos caem das árvores, são bons e doces: ao caírem rasga-se-lhes a pele rosada. Sou para os figos maduros o vento Norte".

"Assim, semelhantes aos figos, caem entre vós, amigos, as minhas palavras sábias; bebei sua doçura, nutri-vos da sua doce polpa! Reinam em volta de mim o Outono e o céu puro e meridiano".

Aqui não fala um fanático, não se «predica», nem se pede fé: de uma infinita plenitude de luz, uma profunda felicidade cai, gota a gota, palavra a palavra: o ritmo deste discorrer é o da suave lentidão. Tais coisas só acontecem aos eleitos: é privilégio sem igual ser ouvinte aqui. E a quantos é dado ter ouvidos para Zaratustra? Apesar de tudo, não é acaso Zaratustra um sedutor? Que diz ele quando regressa à sua solidão? Exatamente o contrário do que em situação análoga diriam um «sábio», um «santo», um «salvador do mundo» e mais decadentes... Não só fala de outro modo, é outro...

Agora vou sozinho. Oh! Meus discípulos! Também vós ides sozinhos! Assim o quero.

Afastai-vos de mim e acautelai-vos de Zaratustra! Mais ainda; envergonhai-vos dele! Talvez vos haja enganado.

O homem que busca o conhecimento não só deve amar os seus inimigos, mas deve também poder odiar os seus amigos. Recompensa mal um mestre quem se contenta de ser discípulo. E porque não ousais destroçar a minha grinalda?

Venerais-me. Pois bem, que aconteceria se um dia a vossa veneração sucumbisse? Tende cuidado, não vos esmague uma coluna do templo!

Dizeis que acreditais em Zaratustra? Mas que importa Zaratustra? Sois meus crentes? Mas que importam todos os crentes?

Porque não vos tínheis procurado a vós próprios, me encontrastes. Assim fazem todos os crentes: por isso qualquer fé vale tão pouco.

Agora, vos digo, se me perderdes a mim, encontrar-vos-ei a vós, e só quando todos me tiverdes renegado, voltarei, surgindo entre vós..."

Ecce Homo, Introdução, 4

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